10- Minha passagem pelo Fluminense F.C - 1996/1998


Todo profissional da área de gestão esportiva sonhava em trabalhar no Fluminense F.C, não só pelo clube centenário e tradicional, mas pelo modelo de organização durante várias décadas.
Nomes como Almir de Almeida, Domingos Bosco e Roberto Alvarenga, foram os pioneiros na área de supervisão e gerenciamento de futebol.
Eu concretizei meu sonho no ano de 1996 quando o doutor Valquir Pimentel, que já havia ocupado o cargo de Vice Presidente em 1992, foi quase obrigado a voltar para as Laranjeiras, para tentar solucionar a séria crise financeira do clube, eu fui convidado a aceitar com ele este desafio.
No ano anterior, a diretoria do Fluminense tinha conseguido ótimos resultados de campo, campeão estadual com gol de barriga do Renato Gaúcho e semifinalista do Brasileiro com todas as chances de brigar pelo título. Porém, na parte financeira, o clube estava cheio de dívidas.
Para exemplificar a situação que nos foi deixada, os salários dos jogadores e funcionários estavam atrasados dois meses e os mesmos entraram de férias sem receber um tostão, inclusive os respectivos décimos terceiros.
Na reapresentação, iríamos realizar a pré temporada na cidade de São Lourenço, em Minas Gerais, e os jogadores se negaram a viajar se não recebessem pelo menos uma parte do salário. Por nossa sorte, o Renato Gaúcho, que eu não tinha a menor intimidade, me deu um crédito de confiança, quando disse que o primeiro negócio que o Fluminense fizesse começaríamos a quitar as pendências, e todos os atletas entraram no ônibus e viajaram para a pré temporada. O Renato Gaúcho era o grande líder daquele grupo e ainda por conta própria ajudava os funcionários mais necessitados. Todos sem rejeição os respeitavam muito.
O que prometemos foi cumprido. A venda do Sorlei para o São Paulo e a do Aílton para o Grêmio, foram integralmente para saldar as dívidas com os atletas.
Era um mundo inteiramente novo, a remuneração do centroavante Valdeir, era maior que toda a folha dos atletas do Friburguense. Pagávamos uma quantia altíssima ao jogador Luiz Henrique, que não entrava em campo por problemas médicos, que ficou um ano inteiro sem dar um chute na bola. Em uma época, que não existia a lei Pelé. E os jogadores eram patrimônio do clube. Eu tinha que me adaptar rapidamente a nova realidade e tentar resolver as pendências ou perderia o respeito de todo o grupo.
Mesmo com tudo isso, se o Renato Gaúcho não tivesse uma lesão meniscal grave, tínhamos tudo para sermos bi campeões estadual. O técnico Jair Pereira colocou peças fundamentais como Vampeta e Valdeir perto do Renato Gaúcho, que estava em uma fase espetacular, inclusive era o artilheiro do campeonato.
Infelizmente o grupo sentiu muito a falta do jogador e do líder nas partidas decisivas, mesmo com a chegada do Ricardo Rocha, não conseguimos repitir a campanha do ano anterior.
Logo após o carioca, o Doutor Valquir pediu para sair, e eu por gratidão também pedi demissão.
Voltei quando o Doutor Hargreaves assumiu o departamento de futebol. A política interna do clube fervilhava! A saúde financeira toda comprometida, a boa safra dos atletas juniores a torcida não tinha paciência (Roger, Roberto Blun, Marco Brito) e atletas que tinham ótimo potencial como Roni e Magno Alves, precisavam de tempo para se adaptar a cidade e a nação tricolor.
Os treinadores sentiam muita dificuldade de engrenar estes atletas pela pressão da torcida e a precipitação da diretoria em contratar jogadores totalmente fora de forma física.
Bem, eu chegava nas Laranjeiras às 8:30 e saía às 22h, me dedicando integralmente ao clube, só não perdi a minha mulher, porque ela gerenciava o departamento de marketing, e chegávamos e saíamos juntos!
Foi uma grande escola, o tempo que passei no Fluminense F.C foi conturbado, mas me deu muita vivência e maturidade. Só tenho uma pontinha de ciúme para os profissionais que logo depois assumiram o clube, pois com uma parceria forte, como a Unimed, tudo ficou mais equilibrado financeiramente.
Tenho orgulho quando volto ao Fluminense, ser reconhecido pelas diretorias, torcidas independentes e funcionários daquela época, como um profissional honesto e dedicado.